Hoje publicarei uma pequena parte do trabalho que fiz como prova na Pós Graduação. Publicarei a parte que versa sobre a invasão francesa no Rio de Janeiro (O trabalho fala sobre outras coisas também). Bem, aqui está:
Portugal queria um caminho exclusivo para chegar até as índias. Partiram seus mais gabaritados navegadores, contornaram a África e fundaram feitorias ao longo da costa. Cruzaram o Cabo das Tormentas, que foi rebatizado de Cabo da Boa Esperança. Porém, em 1500, chegaram a uma terra até então desconhecida (ou pouco conhecida?). Nessa terra, que ficaria conhecida como Brasil, inicialmente não foram encontrados metais preciosos. O principal produto que se extraía era o chamado Pau-Brasil, (cuja primeira leva chegou a Portugal através da expedição de Cristóvão Jacques, em 1503) de onde se retirava a matéria prima para tingir tecidos na cor vermelha. Os poucos portugueses que ficaram naquela terra nos primeiros anos não construíram nem estabeleceram defesas sólidas. Não havia muito com o que se preocupar, afinal, não havia metais preciosos, que eram a grande ambição dos Estados. No livro “Brasil – França, relações históricas no período colonial”, no texto de Lucien Provençal, lê-se: “Dom Manuel, que iria reinar até 1521, não tinha maior interesse pelo Brasil. A princípio era só uma aguada a caminho das lucrativas Índias.” (MARIS, VASCO, 2006, P.24). Porém, navegadores de diversas nacionalidades começaram a assediar o litoral brasileiro para extrair suas riquezas, principalmente o Pau-Brasil. Dentre eles, destacam-se os franceses, que investiram diversas vezes em nosso território entre 1503 e 1530, com destaque para os homens do armador Jean Ango, atuando a serviço do rei de França. Com a ascensão de Dom João III cresce o interesse no Brasil e em 1530 seguiu para o litoral brasileiro a expedição de Martim Affonso, com ordens para distribuir terras e de fortificar a costa. O sistema de Capitanias Hereditárias era uma tentativa de Portugal para estabelecer na região seu domínio utilizando o mínimo de recursos possíveis. Aos donatários cabia, entre outras coisas, prover a defesa de sua Capitania. Nesses primeiros anos da colonização portuguesa, surgiram os movimentos de exploração do interior do país, em busca, principalmente, de ouro e prata. Eram as chamadas Entradas, que junto com as posteriores Bandeiras seriam fator primordial da expansão do nosso território.
Fica evidente que nesse período Portugal não tinha como investir de forma efetiva na defesa do imenso território brasileiro. Na verdade, não havia prevenção, caso houvesse a notícia de algum ataque ou do estabelecimento de algum contingente não português no Brasil, era organizada uma expedição para retomar a posse do local. Vejamos este caso, descrito no livro “Resumo da História do Brasil”, de Salvador D’Albuquerque:
“Foi assim que um navio de Marselha, tendo vindo à Pernambuco carregar Pao Brasil accupou a feitoria d’Itamaracá, fundada por Cristóvão Jacques em 1526 ou 27 e nella deixou setenta Francezes, para guarda-la como sua.
Logo, porem, que isto foi sabido em Lisboa, expedio El Rei uma armada em dezembro de 1530, sob o commando de Duarte Coelho Pereira para os lançar fora dalli, o que completamente conseguio, expulsando os Francezes e tudo o que elles tinham feito...” (sic) (D’Albuquerque, 1848, P.18)
No século XVI era impossível vencer qualquer combate ou empreender qualquer missão militar sem apoio dos índios. Esses eram divididos em várias tribos que estavam em constante estado de guerra uma com as outras. Como nessa época a arma de fogo ainda não era muito sofisticada , o arco e a flecha indígena se mostravam armas eficazes. Por vezes o contingente de índios era superior ao de homens brancos nas batalhas.
A primeira tentativa efetiva de se instalar uma colônia não portuguesa em solo brasileiro foi intencionada pela França.
“Com a intensificação da guerra civil religiosa na França o almirante Coligny, principal ministro do rei francês Henrique II, decidiu enviar à Guanabara uma missão calvinista para estudar a possibilidade de aqui instalar uma grande colônia para abrigar os protestantes que estavam sendo perseguidos na França pelo rei católico”.(Mariz, 2006, P. 51). (MARIS, VASCO, 2006, P.24)
Com a Europa em guerra por motivos religiosos, as agressões aos Estados se entendiam às colônias. Como podemos observar da passagem acima, a idéia de Coligny era sondar no Brasil, especificamente na Guanabara, a possibilidade de se estabelecer aqui uma colônia protestante, resolvendo assim um problema que estava se tornando sério na França: as desavenças entre estes e os católicos. Mandou uma expedição chefiada pelo almirante Nicolas Durand de Villegagnon, um experimentado militar francês que já havia por vezes se destacado por sua bravura em combate.
“Villeganon atuou intensamente nas guerras de religião na França e defendeu com sucesso as cidades de Sens e Auxerre, vizinhas a Paris, contra os ataques das tropas protestantes do Príncipe de Conde”.( Mariz, 2006, P. 54).
Após uma viagem de reconhecimento que chegou na região de Cabo Frio, provando o quão desprotegida era nossa costa, o rei Henrique II se decide a mandar a expedição definitiva ao Rio de janeiro em 1555. Villeganon recebe parcos recursos do rei de França, mas usa seus próprios recursos para equipar os navios. Porém, dada a finalidade da missão, não pode contar com uma tripulação profissional, acabando por recrutar muitos homens desqualificados e até condenados pela justiça. Se estabelecer numa terra distante e desconhecida não agradava a muitos. Contratou soldados escoceses para compor uma guarda profissional, e levou um índio que tivera sido trazido à Europa anteriormente.
Porém, em 1549, percebendo a necessidade de um poder central para melhor desenvolvimento do Brasil, Don João III envia Thomé de Souza como governador geral do Brasil e junto com ele militares profissionais e missionários jesuítas, entre eles o padre Manoel da Nóbrega. Foi fundada a cidade de San Salvador, que serviria de centro administrativo da colônia. Na região da atual cidade do Rio de Janeiro, porém, não havia ninguém. As vilas mais próximas eram São Vicente e Espírito Santo. No entanto, os franceses chegaram à Baia de Guanabara sem serem importunados e fundaram um forte (forte de Coligny) em uma ilha que os índios chamavam de Serigipe. Villegagnon conseguiu a amizade dos índios, mas como era um homem rígido em seus princípios, teve muitos problemas com seus comandados que, como dito anteriormente, não eram as pessoas mais adequadas ao empreendimento. Chegaram a construir casas e até uma olaria na porção continental. A essa povoação chamaram de Henriville, em homenagem a Henrique II. Mais navios chegaram trazendo calvinistas, o que aumentou o descontentamento dos colonos franceses. Alguns desertaram, e a situação se agravou a ponto de Villegagnon retornar a França em 1559.
Somente em 1557, através da delação de um desertor, os portugueses tomaram ciência da posição dos franceses na Baia de Guanabara. Mesmo assim, devido à demora para angariar reforços e ao grande respeito que o nome de Villegagnon impunha, só atacaram em 1560, quando tiveram notícia da saída do almirante francês.
Mem de Sá, Governador Geral do Brasil, atacou o forte Coligny, encontrando dura resistência apresentada sob o comando de Bois-le-Comte. Atacou, então, Henriville, destruindo a cidade e os poucos franceses que encontraram, pois a maioria havia se abrigado no forte. Os portugueses, após dias de bombardeio, conseguem tomar o forte em uma ação de surpresa: alguns homens escalaram o morro em que o forte se encontrava. Foi uma espécie de “ação de comandos”. Explodiram o paiol, e os defensores fugiram para a terra. Não houve, porém, perseguição, e os franceses permaneceram na Guanabara até 1565, quando Estácio de Sá, finalmente, ergueu as bases da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Até 1567, ano da vitória definitiva, os portugueses sofreram vários ataques, expulsando os franceses remanescentes a muito custo, e Estácio de Sá pagou com sua própria vida, vítima de uma flecha envenenada de um índio que lutara ao lado dos franceses, no assalto à Mont Henri (Morro da Glória).
Notas:
1. As armas dessa época disparavam com o sistema de mecha, onde a “mecha” era um cordel que queimava de forma lenta e ficava sempre à mão do arcabuzeiro ou do mosqueteiro para poder detonar o rastilho de pólvora. Quando chovia, ficava praticamente impossível disparar!
Bibliografia:
• Mariz, Vasco. Brasil-França: Relações históricas no período colonial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2006.
• Andréa Frota, Guilherme de. Quinhentos anos de História do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2000.
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