segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Pesquisa na “Era da Informação”



A partir de hoje, passo a publicar uma série de trabalhos que já foram avaliados pelos professores da universidade. Neste aqui, o tema é "pesquisa histórica" e foi tema de uma Avaliação no curso de Licenciatura em História, segundo semestre, matéria "Teoria da História".


A rede mundial de computadores, internet, introduziu um novo meio de pesquisa. Desde que surgiu até hoje, sofreu vários aperfeiçoamentos e é um dos principais meios de se obter informações, sejam notícias, busca documental, procura em base de dados entre outras possibilidades. Estaríamos presenciando a obsolescência das fontes não digitais? Até que ponto a revolução tecnológica está sendo benéfica aos pesquisadores? Esta é uma análise dos textos de dois historiadores, sejam eles Carlo Ginzburg, em dois vídeos, e Robert Darnton na resenha “Cinco mitos na idade da informação”.
Os dois autores concordam que não é a primeira ocasião que o mundo presencia uma “Era da Informação”. O surgimento da imprensa, por exemplo, teria surtido um efeito semelhante no mundo muito antes dos computadores existirem. A novidade da internet, no que tange à pesquisa, não seria o conceito, os enciclopedistas tiveram idéia semelhante, mas sim a tecnologia utilizada. A leitura fragmentária, outra preocupação dos dois autores, realizada em blogs e outras mídias sociais nos dias de hoje, também já seria utilizada anteriormente por juristas e homens públicos, desde a antiguidade, que utilizavam partes de textos para realizar interpretações por vezes descontextualizadas com propósitos diversos. Para Ginzburg, esta leitura seria superficial e prejudicial. Somente uma educação prévia e uma leitura “lenta e profunda” levaria a uma boa utilização dos textos. Darnton não é tão pessimista em relação à leitura fragmentária, defendendo que a mesma pode ser benéfica caso seja aliada a um bom entendimento. Ginzburg enxerga a internet como instrumento “potencialmente” democrático, que atualmente se encontra disponível apenas para alguns privilegiados. Darnton não tece considerações diretas a esse respeito.
Ponto pacífico entre os dois textos é que a pesquisa na internet pode gerar problemas de interpretação. Com muita informação disponível, nem todas confiáveis, o leitor pode chegar a conclusões que não correspondem aos fatos, "interpretando interpretações" já equivocadas. Na internet, qualquer um pode escrever ou falar qualquer coisa. Não é mais necessário para se colocar um livro on-line passar pelo crivo de um editor, por exemplo. É uma facilidade e tem seus benefícios, mas traz riscos a quem pesquisa. Há, então, na internet, “jóias misturadas ao lixo” como observou Ginzburg. Ainda nas palavras de Ginzburg em sua palestra: “O Google é, ao mesmo tempo, um poderoso instrumento de pesquisa histórica e um poderoso instrumento de cancelamento da História, pois no presente eletrônico, o passado se dissolve”. Darnton, logo no início de seu texto, alerta: “(...) ao tentarmos nos orientar no ciberespaço, frequentemente apreendemos coisas de forma errada e esses equívocos se disseminam tão rapidamente que são incorrigíveis”.
Darnton nos mostra que muitos mitos surgidos sobre a chamada “Era da informação” são inverídicos. Entre estes falsos mitos dois se destacam: o livro impresso não está em decadência. Pelo contrário, a edição de livros nesse formato vem crescendo a cada ano; nem toda informação está disponível on-line e, consequentemente, ainda devemos consultar bibliotecas. Ou seja, por mais maravilhosos que possam ser os mecanismos de busca na internet, e sem dúvida facilitaram muito a pesquisa, como o Google, citado por Ginzburg, eles ainda estão longe de abarcar todo o conhecimento textual disponível.
O mito do “futuro digital” também é contestado. Darnton crê que uma nova mídia não destrói necessariamente a anterior, e cita como exemplo que a televisão não acabou com o rádio e que a internet não acabou com a televisão. No ponto de vista de Ginzburg, as fontes digitais não devem concorrer com as fontes físicas, mas sim complementa-las.
Da análise dos dois textos podemos chegar às seguintes conclusões: a internet trouxe novos meios de se pesquisar a História. Facilitou, também, a publicação de artigos, revistas e resenhas, que se encontram aos montes na rede. Diversos projetos atualmente estão empenhados em digitalizar fontes históricas e já é possível acessar documentos importantes sem sair de casa. Como nem todas as fontes estão em formato digital, a pesquisa em arquivos, museus e bibliotecas ainda são necessárias, e talvez nunca deixem de ser, visto que algumas fontes requerem um exame físico, como estátuas, jarros, utensílios e outros objetos que só fazem sentidos se observados in loco, mesmo que possamos vê-las por meio de fotografias (digitais?).
Com a maior facilidade de publicação surge também o problema da qualidade, isto é, deve-se estar atento para as informações irrelevantes, que são muitas, disponíveis on-line. Devemos lembrar que qualquer um pode escrever qualquer coisa, e avaliar o quanto de crédito cada informação merece.
Como no caso exposto por Ginzburg na segunda parte de sua palestra, a descontextualização e a livre interpretação podem induzir quem está pesquisando a uma conclusão equivocada. E há quem se interesse até por essas interpretações errôneas, seja por que se tornam mais atraentes seja por que se tornem mais convenientes.
Por fim, não devemos temer a “era da informação” e sim nos adaptarmos e tomarmos os devidos cuidados ao lidarmos com uma tecnologia extremamente inclusiva. A História é uma grande beneficiária da internet, mesmo com todos os problemas que estão presentes na rede.