sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Brasil e o interesse por História

     
Ao realizar as primeiras provas presenciais do semestre, pude conversar um pouco melhor com meus amigos e amigas de turma (curso licenciatura em História atualmente). Percebi que a grande maioria já exerce alguma ocupação remunerada, fato que se enquadra no perfil das pessoas que escolhem a modalidade EAD (Ensino a Distância). Mas observei também o seguinte: essas pessoas, em sua maioria esmagadora, não pretendem exercer a docência. Não querem ser professores... por quê?
     Três alunos estão no último período de Direito, prestes a se tornarem Bacharéis. Perguntei o motivo de cursar História e a resposta foi a seguinte: um deles alegou que a matéria seria importante para um concurso que pretende prestar. Os outros dois disseram que gostam de História, estão fazendo por prazer, mesmo. Existem profissionais de áreas improváveis, como engenharia e até mesmo um dentista. Nenhuma das pessoas com quem conversei disseram ter a intenção de se tornarem professores de História no ensino médio.
     A resposta para esse desinteresse pela docência parece óbvia hoje em dia, diante de tudo que acompanhamos nos noticiários na TV e em todo o tipo de mídia. A carreira de professor está desvalorizada. A pessoa, que ama a História, só se arrisca a cursar uma faculdade após já ter um meio de sustento, após já estar estável economicamente. Esse é o perfil da maioria. A única carreira de docência que vale à pena é a do Ensino Superior Público. No meio militar os interessados em História atuam paralelamente à carreira das armas. Muitos não podem exercer o magistério por questões estruturais, caso dos sargentos (o magistério militar é reservado aos oficiais e não é permitido cumulativamente ao militarismo). Outros, mesmo estando habilitados, não encontram vaga na instituição (são muito poucas), e preferem manter a estabilidade do que abandonar a carreira e se tornarem professores. Mas não são só os militares (os citei por conhecer esta realidade de perto), advogados, engenheiros, jornalistas e pessoas de outras profissões gostariam de viver fazendo o que realmente gostam, mas não podem. Além de serem professores (o que não daria tanto retorno como suas atuais profissões) o que poderiam fazer com os conhecimentos adquiridos no curso de História?
     Vamos analisar agora o mercado editorial para os historiadores. A lista de livros mais vendidos segundo a Revista Veja, na parte de Não Ficção, apresenta seis livros com temas de História entre os vinte primeiros. Confiram no link: http://veja.abril.com.br/livros_mais_vendidos/ . Todos foram escritos por jornalistas. Por quê?
     Minha opinião: os nossos maiores expoentes no ramo da História estão dentro das universidades. São doutores e doutoras que produzem, e muito. Mas a divulgação é feita somente no meio acadêmico. É necessário e importantíssimo que assim seja. Mas a linguagem de suas obras é, por vezes, ininteligível para grande parte da população. O impacto de suas pesquisas só fica conhecido na sociedade em geral através dos livros dos... jornalistas! Eles utilizam o conhecimento gerado por esses Historiadores profissionais, lendo seus trabalhos, e transformam em literatura acessível, sem a rebuscada escrita acadêmica. Esses jornalistas estão prestando um serviço à História. A relação candidato - vaga nas universidades comprovam a alta demanda pelos cursos, assim como o número de livros lançados no mercado e o consumo dessas obras também são indicadores positivos.
     Critica-se a iniciativa dos jornalistas. "Não tem formação para escrever História!". Concordo que nem todos tem tratado a História como se deve. Para alguns falta arcabouço teórico, a outros falta quase tudo além da vontade de escrever. Mas existem os bons, também! Aqueles comprometidos com as fontes e com a pesquisa em geral. Não podemos negar que existe um nicho de mercado. Se os professores de História e Historiadores não suprirem esta demanda, outros o farão. As obras podem ser contestadas como fontes acadêmicas, mas seus valores existem e não são poucos.
      Amantes da História, não desistam! Existe vida fora da academia. Sejamos professores em todos os níveis! Escrevamos para o grande público! Ou isso, ou os jornalistas o farão. Ou os engenheiros, advogados, médicos...
     

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guerra da Coreia: O momento mais quente da Guerra Fria

     
     A Guerra da Coreia (1950-1953) é pouco citada em comparação a outros eventos ocorridos no contexto da Guerra Fria como, por exemplo, a Guerra do Vietnã ou a crise dos mísseis em Cuba. Considerada de pouca importância estratégica para os americanos, em princípio, a Coreia ficou sob o domínio Japonês desde 1905 até o fim da Segunda Guerra Mundial, sem que nenhuma potência se importasse muito e apesar dos protestos do povo coreano. Com a derrota dos japoneses na Segunda Guerra, a Coreia foi dividida e ocupada por forças militares a partir do paralelo 38 entre a União Soviética ao norte (governada pelo ditador Kim Il Sung) e os Estados Unidos ao Sul (comandado pelo nacionalista Singman Rhee). Essa divisão deveria ser apenas temporária, até que o país retomasse a ordem após anos de dependência estrangeira, mas perdurou graças a motivos políticos: a União Soviética tinha a pretensão de instaurar uma República Comunista em toda a península. Os Soviéticos se retiraram em 1948, e os americanos em 1949. Foi então que começaram as hostilidades. A parte sul do país era essencialmente agrária. A principal usina de energia ficava na parte norte, assim como as principais indústrias. Il Sung bloqueou a entrada dos trabalhadores do sul do país, gerando insegurança. O presidente Rhee começou, então, uma tentativa de recuperar a porção norte do país. Tanto Il Sung quanto Rhee apelaram para os governos estrangeiros que haviam ocupado o país. Os comunistas do norte apelaram a Stalin e Mao Tse Tung e os nacionalistas do sul ao governo americano. Inicialmente, a ajuda foi negada por ambas potências. Rhee sofria também com revoltas comunistas em seu território e tinha agentes infiltrados do norte incitando a revolução. Rhee tomou atitudes drásticas matando sem ponderar os opositores de seu regime. Fazia também incursões ao norte, violando a fronteira do Paralelo 38.
     Em 1950, Kim Il Sung invade a parte sul do país, temendo que seus opositores apoiados pelos capitalistas ficassem mais fortes e invadissem o norte. O início do conflito foi desastroso para a Coreia do Sul, ao contrário do que pensavam os americanos. Os norte-coreanos avançaram de forma impressionante sobre o sul, tomando de assalto várias cidades. Seul teve de ser evacuada, e o presidente Rhee ordenou um verdadeiro massacre aos supostos "traidores". A ONU aprovou a intervenção militar, e os Estados Unidos entraram na Guerra por determinação de seu então presidente Truman, uma vez que a medida não foi votada no Congresso (foi considerada medida de emergência). Esperando uma vitória relativamente tranquila, os Estados Unidos enviaram uma Força Tarefa de aproximadamente 420 militares, a Força Tarefa "Smith" em alusão a seu comandante, o Coronel Smith. O início dos combates foi complicado para os americanos, que precisaram de reforços e só depois de muitos bombardeios aéreos conseguiram fazer o exército norte-coreano recuar. A Coreia do Sul estava libertada, mas os americanos pretendiam invadir o norte para desmantelar o governo comunista de Kim Il Sung. Porém, a China e a União Soviética enviaram mensagens à ONU alertando que se houvesse violação do Paralelo 38 pelos americanos, eles enviariam tropas em defesa da Coreia do Norte. Os americanos avançaram e os Chineses cumpriram a ameaça, apoiando com tropas e equipamentos (que a URSS também enviou) a Coreia do Norte.
     Todo o mundo acompanhava o conflito com muita tensão, pois havia grande risco de utilização de artefatos nucleares. Os Estados Unidos haviam mostrado seu poderio nuclear em Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra e a União Soviética exibiu em 1949 seus testes nucleares, demonstrando que já dominava a nova arma mortífera. A ONU tentava uma mediação, porém sem sucesso, visto que a China e a Coreia do Norte estavam em vantagem. Não só expulsavam os invasores do norte como também preparavam uma ofensiva para invadir o sul do país. Mais treze Estados membros da ONU enviaram reforços bélicos aos americanos e sul-coreanos, incluindo cinco porta-aviões (dentre eles o Sidney da Austrália e o Triumph da Grã Bretanha). Destaque para o Exército Colombiano, pela primeira vez enviando tropas para um conflito além-mar na sua História. Algumas nações apoiaram com reforços logísticos, como a Dinamarca que enviou um navio-hospital.
     Com a guerra equilibrada (e mesmo já pendendo para vitória dos sul-coreanos e aliados) começaram as negociações de paz, que se estenderam por anos a fio. Em 1953 a Coreia permaneceu dividida em norte comunista e sul capitalista e essa divisão permanece até hoje. O conflito não apresentou grandes novidades. A maioria do material utilizado foram os equipamentos remanescentes da 2ª Guerra Mundial. Os aviões a jato e helicópteros estavam entre as novidades que passaram a ser efetivamente utilizadas.

Para saber mais sobre a Guerra da Coreia, recomendo o livro de Stanley Sandler "A Guerra da Coreia: nem vencedores nem vencidos" publicado no Brasil pela BIBLIEX.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Como é estudar no consórcio CEDERJ?



     Quando resolvi prestar o vestibular para uma vaga em História no consórcio CEDERJ, que é uma parceria entre as faculdades Federais e Estaduais do Rio de Janeiro para oferecer ensino na modalidade EAD (Ensino a Distância), não consegui encontrar muitas informações fora do próprio site da Fundação CECIERJ, administradora do consórcio. Informações sobre o polo que me interessava, então, era impossível! Pensando naqueles que estão curiosos para saber mais a respeito do que é estudar "no CEDERJ", escrevo aqui algumas informações.

NÃO É FÁCIL

     Essa é a primeira informação útil. Caso não esteja realmente com vontade de estudar muito, melhor desistir. O ensino a distância é "cruel", não perdoa preguiçosos! Prepare-se para estudar nos fins de semana, na hora do almoço no serviço... principalmente se seu curso for Licenciatura em História, que exige a leitura de um volume grande de livros. Pra quem gosta de ler é um deleite! 
     As provas presenciais são nos fins de semana, dois seguidos, sábado e domingo. Ás vezes de manhã e a tarde.

A PLATAFORMA

     A Plataforma é onde ficam disponíveis os recursos para os alunos estudarem na internet. Os livros são de graça, entregues quando a matrícula na disciplina é realizada, mas todo o conteúdo fica disponível on-line. Isso é um grande "adianto"! As salas de tutoria on-line são os locais onde os alunos deixam suas dúvidas para serem respondidas pelos tutores. Costumam demorar um pouco para responder, mas nunca deixam de fazê-lo. Há, ainda, uma linha 0800 para retirar dúvidas com os tutores (nunca utilizei). Cada um tem um horário que é preestabelecido no início do semestre. Para completar, o aluno pode se dirigir ao polo para conversar pessoalmente com o tutor, em horário previamente estabelecido.

POLO DUQUE DE CAXIAS

     Quem estiver interessado em cursar alguma disciplina no Polo Duque de Caxias fique sabendo que o mesmo foi reformado este ano. Ficou bem legal! Tudo novinho em folha para receber os alunos. Conta com várias salas de aula, uma biblioteca, laboratórios. É bem localizado, fica no bairro 25 de agosto, pertinho do centro da cidade. Só tem um porém, as provas não são feitas no Polo, ele não comporta todos os alunos de uma só vez... geralmente somos mandados para a FEUDUC (que fica bem mais distante do centro) ou alguma escola municipal.

VALE À PENA?

     Com certeza. O mais interessante é perceber que o público que o CEDERJ atende é muito heterogêneo. Diferente dos alunos presenciais das Universidades Federais, que são muito jovens, em geral, a média de idade do EAD do CEDERJ gira em torno de 35 anos. São pessoas que, na grande maioria, trabalham e estudam. Se tivessem que fazer um curso presencial teriam que se sacrificar muito. Ou não poderiam fazê-lo. Muitos que lá estão fazem sua segunda graduação. Trabalham em uma área mas gostam de estudar História, estudam por amor à disciplina. Querem ser professores. Existem jovens, também, não são poucos. Porém mais da metade dos alunos tem mais de 30 anos. Isso eu afirmo com boa convicção pelo que tenho observado.

     Espero ter ajudado a responder algumas perguntas de candidatos ansiosos por saber um pouco mais sobre sua possível nova Universidade. Estou à disposição para responder qualquer outro questionamento. Um abraço a todos, até mais!

terça-feira, 23 de julho de 2013

Licenciatura em História



     Após dois anos de descanso estou de volta aos estudos, desta vez para, finalmente, cursar minha licenciatura em História. Passei no vestibular da CEDERJ e agora sou aluno da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) mais uma vez, desta vez no polo Duque de Caxias. Quando cursei a pós-graduação em História Militar (apesar de ser formado em Comércio Exterior) tive certeza que era de História que eu gostava. E como quem faz o que gosta está sempre de férias, tenho quatro anos de férias pela frente! Terei agora uma formação bem mais consistente e espero que com isso a qualidade deste Blog também melhore (e a frequência com que faço postagens também).
     Como não poderia deixar de ser, gostaria de agradecer à minha esposa, Lourdes (a Lourdinha), que praticamente arcou com todo o custo do material didático dos meus estudos. Quando eu pensava em comprar alguma apostila, lá estava ela cheia de livros nas mãos. O que dizer de uma esposa tão dedicada? Gostaria de agradecer também ao Jerônimo que me incentivou a prestar o vestibular da CEDERJ (eu ia fazer na particular, com medo de perder tempo caso não fosse aprovado, mas meus amigos acreditam mais em mim do que eu mesmo acredito...).
     E para encerrar esse post, gostaria de incentivar aqueles que curtem História a também cursarem a licenciatura. Prestem o vestibular e juntem-se aos historiadores na missão de reconstrução do nosso passado.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Trilogia "O Século" e a História Militar


     Ao encontrar nas prateleiras das livrarias o livro "Queda de Gigantes", do escritor galês Ken Follet, já sabia que teria que comprá-lo só de ler o título. Afinal, como falar do século XX sem falar sobre as guerras? Já conhecia um pouco o autor, pois já havia lido "O voo da vespa" cuja hstória se passava na Dinamarca ocupada pelos nazistas. Para ler a obra de Follet, temos que ter em mente que encontraremos romances, daqueles bem adolescentes mesmo. Não gosto dessa parte, considero a mesma meio "melosa" demais, com descrições de cenas eróticas, inclusive. Mas temos muito de História Militar, também, principalmente na área de inteligência (o autor gosta muito de espionagem). Assim sendo, vale a pena ler tanto "Queda de Gigantes" (focado nos acontecimentos da Primeira Guerra Mundial) quanto "O Inverno do Mundo" (mostrando o mundo durante a Segunda Grande Guerra), o segundo livro da série.
     A grande proposta da série é mostrar como os acontecimentos do século XX afetaram as famílias nos principais países envolvidos nos conflitos. Assim, Follet nos apresenta personagens alemãs, inglesas, americanas, russas e galesas (não se esqueçam que o autor é nascido no País de Gales...) que nos mostram como era viver nesses países naquela época. A diversidade das personalidades e os inusitados encontros entre os diversos protagonistas foram muito bem trabalhados pelo autor. Li algumas críticas no Skoob por parte de alguns usuários acusando Follet de apresentar os Estados Unidos como uma espécie de "Paraíso do Mundo" na época, por conta de algumas personagens sonharem em ir para a América. Convenhamos: onde você preferiria passar o ano de 1914: nos Estados Unidos (pais republicano, com certa liberdade de expressão e empreendimento) ou na Rússia (do atrasadíssimo regime Czarista, quase feudal)? Onde será que você teria mais oportunidades?
     Questões interessantes sobre a doutrina militar são mostradas nos dois livros: evolução rápida da doutrina, dificuldade de adaptação dos oficiais à nova realidade do combate, a questão da mobilização, modernização do equipamento, surgimento das agências de inteligência, propaganda da guerra...  enfim, recomendo a leitura, com certeza vai agradar aos historiadores e apaixonados pela História Militar!