quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Guerra dos Tronos - Crônicas de Gelo e Fogo



Esta obra de ficção de George R. R. Martin tem me impressionado desde o primeiro momento em que comecei a lê-la. Trata-se de fantasia medieval, mas tão bem escrita e bem ambientada que podemos dizer que o leitor acaba aprendendo um pouco de História. O mundo é fictício, bem ao estilo RPG, mas a trama e os acontecimentos, principalmente as intrigas e as relações entre as personagens, se assemelham muito ao que acontecia na era medieval. Passarei a listar coisas em comum entre as descrições no livro e o mundo real. Tentarei me esquivar de spoilers na medida do possível!

A MÃO DO REI

O cargo chamado "A mão do rei" na obra de Mrtin é muito semelhante ao chamado "prefeito do palácio", cargo real que existiu na época da Dinastia Merovíngia durante os séculos VIII e IX e que depois foi perdendo gradativamente a força. Aliás, os Merovíngios foram destronados por delegarem poderes demais aos prefeitos dos palácios e se afastarem da administração. Eles só queriam usufruir das regalias da realeza sem se preocupar com a defesa do território, com a logística do reino, enfim, sem se preocupar com mais nada! O livro retrata a relação entre o rei e sua "mão" de forma próxima do que deveria ter sido realmente.

VASSALAGEM

A relação entre a pequena nobreza e seus susseranos também ficou bem exemplificada. A lealdade transitória, as ligações por interesse, a função dos cavaleiros, o modo como agiam, tudo isso foi muito bem colocado. Não é um romance de cavalaria, onde os belos cavaleiros disputam a mão da belas princesas... nem existem combates absurdos entre cavaleiros superpoderosos! Aliás, a "fantasia" da obra vai surgindo em forma de gotas...

HERÓIS?

As personagens são tão interessantes que fica difícil dizer quem realmente é o foco da História. E não dá também para dividí-las entre "bonzinhos" e "malvados". Cada um tem sua motivação e ajem de acordo com ela, as vezes de forma nobre outras de forma desprezível. Outra cisa interessante é a caracterização feita pelo autor: gente bonita é raridade... mais fácil encontrar pessoas deformadas, fedorentas e com dentes podres do que alguém bem tratado e de boa aparência. Isso é muito verdadeiro, pois era essa a proporção na época medieval, onde as doenças marcavam os rostos das pessoas, a higiene era precária e o bem estar quase não existia fora dos grandes palácios.

HERÁLDICA

Outro ponto de destaque. Os estandanter das famílias foram bem abordados. Eles representam os "bem nascidos", ou seja, indicavam que aquela família era nobre. Ter um símbolo de família era sinônimo de honra e nobreza. As vezes alguém por sua bravura ou por ter conseguido a confiança de um rei, ganhava o direito de ostentar um brasão. Saber reconhecer a heráldica naquele tempo, assim como na obra de Martin, era uma "mão na roda" para a diplomacia, pois havia hierarquia entre eles. 

ALGUÉM VIU UM TROLL POR AÍ?

O livro não apresenta nenhuma raça extraordinária de criaturas (Kobolds, Elfos, Trolls) de início. O único anão da história é de fato um anão, fruto de uma deformidade genética. Não, ele não é mau humorado nem luta com um enorme machado de batalha... As criaturas são lendas e sempre que são citadas por alguma personagem são encaradas como tal. Porém logo no início da trama desconfiamos que algumas delas existem... é o caso dos chamados "outros", criaturas que se assemelham a zumbis e são o principal mistério da saga. Outra criatura citada com frequência são os dragões, que já existiram mas foram extintas, restando apenas suas ossadas (alguém se lembra dos dinossauros?). Eles ressurgirão em algum momento na saga?

Fecho esta resenha recomendando que o livro seja lido. Acho que quem curte História não vai se arrepender. Quem gosta de RPG, então, já devia estar lendo!