Ao realizar as primeiras provas presenciais do semestre, pude conversar um pouco melhor com meus amigos e amigas de turma (curso licenciatura em História atualmente). Percebi que a grande maioria já exerce alguma ocupação remunerada, fato que se enquadra no perfil das pessoas que escolhem a modalidade EAD (Ensino a Distância). Mas observei também o seguinte: essas pessoas, em sua maioria esmagadora, não pretendem exercer a docência. Não querem ser professores... por quê?
Três alunos estão no último período de Direito, prestes a se tornarem Bacharéis. Perguntei o motivo de cursar História e a resposta foi a seguinte: um deles alegou que a matéria seria importante para um concurso que pretende prestar. Os outros dois disseram que gostam de História, estão fazendo por prazer, mesmo. Existem profissionais de áreas improváveis, como engenharia e até mesmo um dentista. Nenhuma das pessoas com quem conversei disseram ter a intenção de se tornarem professores de História no ensino médio.
A resposta para esse desinteresse pela docência parece óbvia hoje em dia, diante de tudo que acompanhamos nos noticiários na TV e em todo o tipo de mídia. A carreira de professor está desvalorizada. A pessoa, que ama a História, só se arrisca a cursar uma faculdade após já ter um meio de sustento, após já estar estável economicamente. Esse é o perfil da maioria. A única carreira de docência que vale à pena é a do Ensino Superior Público. No meio militar os interessados em História atuam paralelamente à carreira das armas. Muitos não podem exercer o magistério por questões estruturais, caso dos sargentos (o magistério militar é reservado aos oficiais e não é permitido cumulativamente ao militarismo). Outros, mesmo estando habilitados, não encontram vaga na instituição (são muito poucas), e preferem manter a estabilidade do que abandonar a carreira e se tornarem professores. Mas não são só os militares (os citei por conhecer esta realidade de perto), advogados, engenheiros, jornalistas e pessoas de outras profissões gostariam de viver fazendo o que realmente gostam, mas não podem. Além de serem professores (o que não daria tanto retorno como suas atuais profissões) o que poderiam fazer com os conhecimentos adquiridos no curso de História?
Vamos analisar agora o mercado editorial para os historiadores. A lista de livros mais vendidos segundo a Revista Veja, na parte de Não Ficção, apresenta seis livros com temas de História entre os vinte primeiros. Confiram no link: http://veja.abril.com.br/livros_mais_vendidos/ . Todos foram escritos por jornalistas. Por quê?
Minha opinião: os nossos maiores expoentes no ramo da História estão dentro das universidades. São doutores e doutoras que produzem, e muito. Mas a divulgação é feita somente no meio acadêmico. É necessário e importantíssimo que assim seja. Mas a linguagem de suas obras é, por vezes, ininteligível para grande parte da população. O impacto de suas pesquisas só fica conhecido na sociedade em geral através dos livros dos... jornalistas! Eles utilizam o conhecimento gerado por esses Historiadores profissionais, lendo seus trabalhos, e transformam em literatura acessível, sem a rebuscada escrita acadêmica. Esses jornalistas estão prestando um serviço à História. A relação candidato - vaga nas universidades comprovam a alta demanda pelos cursos, assim como o número de livros lançados no mercado e o consumo dessas obras também são indicadores positivos.
Critica-se a iniciativa dos jornalistas. "Não tem formação para escrever História!". Concordo que nem todos tem tratado a História como se deve. Para alguns falta arcabouço teórico, a outros falta quase tudo além da vontade de escrever. Mas existem os bons, também! Aqueles comprometidos com as fontes e com a pesquisa em geral. Não podemos negar que existe um nicho de mercado. Se os professores de História e Historiadores não suprirem esta demanda, outros o farão. As obras podem ser contestadas como fontes acadêmicas, mas seus valores existem e não são poucos.
Amantes da História, não desistam! Existe vida fora da academia. Sejamos professores em todos os níveis! Escrevamos para o grande público! Ou isso, ou os jornalistas o farão. Ou os engenheiros, advogados, médicos...
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