A partir de hoje, passo a publicar uma série de trabalhos que já foram avaliados pelos professores da universidade. Neste aqui, o tema é "pesquisa histórica" e foi tema de uma Avaliação no curso de Licenciatura em História, segundo semestre, matéria "Teoria da História".
A
rede mundial de computadores, internet, introduziu um novo meio de
pesquisa. Desde que surgiu até hoje, sofreu vários aperfeiçoamentos
e é um dos principais meios de se obter informações, sejam
notícias, busca documental, procura em base de dados entre outras
possibilidades. Estaríamos presenciando a obsolescência das fontes
não digitais? Até que ponto a revolução tecnológica está sendo
benéfica aos pesquisadores? Esta é uma análise dos textos de dois
historiadores, sejam eles Carlo Ginzburg, em dois vídeos, e Robert
Darnton na resenha “Cinco mitos na idade da informação”.
Os
dois autores concordam que não é a primeira ocasião que o mundo
presencia uma “Era da Informação”. O surgimento da imprensa,
por exemplo, teria surtido um efeito semelhante no mundo muito antes
dos computadores existirem. A novidade da internet, no que tange à
pesquisa, não seria o conceito, os enciclopedistas tiveram idéia
semelhante, mas sim a tecnologia utilizada. A leitura fragmentária,
outra preocupação dos dois autores, realizada em blogs e outras
mídias sociais nos dias de hoje, também já seria utilizada
anteriormente por juristas e homens públicos, desde a antiguidade,
que utilizavam partes de textos para realizar interpretações por
vezes descontextualizadas com propósitos diversos. Para Ginzburg,
esta leitura seria superficial e prejudicial. Somente uma educação
prévia e uma leitura “lenta e profunda” levaria a uma boa
utilização dos textos. Darnton não é tão pessimista em relação
à leitura fragmentária, defendendo que a mesma pode ser benéfica
caso seja aliada a um bom entendimento. Ginzburg enxerga a internet
como instrumento “potencialmente” democrático, que atualmente se
encontra disponível apenas para alguns privilegiados. Darnton não
tece considerações diretas a esse respeito.
Ponto
pacífico entre os dois textos é que a pesquisa na internet pode
gerar problemas de interpretação. Com muita informação
disponível, nem todas confiáveis, o leitor pode chegar a conclusões
que não correspondem aos fatos, "interpretando interpretações" já
equivocadas. Na internet, qualquer um pode escrever ou falar qualquer
coisa. Não é mais necessário para se colocar um livro on-line
passar pelo crivo de um editor, por exemplo. É uma facilidade e tem
seus benefícios, mas traz riscos a quem pesquisa. Há, então, na
internet, “jóias misturadas ao lixo” como observou Ginzburg.
Ainda nas palavras de Ginzburg em sua palestra: “O Google é, ao
mesmo tempo, um poderoso instrumento de pesquisa histórica e um
poderoso instrumento de cancelamento da História, pois no presente
eletrônico, o passado se dissolve”. Darnton, logo no início
de seu texto, alerta: “(...) ao tentarmos nos orientar no
ciberespaço, frequentemente apreendemos coisas de forma errada e
esses equívocos se disseminam tão rapidamente que são
incorrigíveis”.
Darnton
nos mostra que muitos mitos surgidos sobre a chamada “Era da
informação” são inverídicos. Entre estes falsos mitos dois se
destacam: o livro impresso não está em decadência. Pelo contrário,
a edição de livros nesse formato vem crescendo a cada ano; nem toda
informação está disponível on-line e, consequentemente, ainda
devemos consultar bibliotecas. Ou seja, por mais maravilhosos que
possam ser os mecanismos de busca na internet, e sem dúvida
facilitaram muito a pesquisa, como o Google, citado por Ginzburg,
eles ainda estão longe de abarcar todo o conhecimento textual
disponível.
O
mito do “futuro digital” também é contestado. Darnton crê que
uma nova mídia não destrói necessariamente a anterior, e cita como
exemplo que a televisão não acabou com o rádio e que a internet
não acabou com a televisão. No ponto de vista de Ginzburg, as
fontes digitais não devem concorrer com as fontes físicas, mas sim
complementa-las.
Da
análise dos dois textos podemos chegar às seguintes conclusões: a
internet trouxe novos meios de se pesquisar a História. Facilitou,
também, a publicação de artigos, revistas e resenhas, que se
encontram aos montes na rede. Diversos projetos atualmente estão
empenhados em digitalizar fontes históricas e já é possível
acessar documentos importantes sem sair de casa. Como nem todas as
fontes estão em formato digital, a pesquisa em arquivos, museus e
bibliotecas ainda são necessárias, e talvez nunca deixem de ser,
visto que algumas fontes requerem um exame físico, como estátuas,
jarros, utensílios e outros objetos que só fazem sentidos se
observados in loco, mesmo que possamos vê-las por meio de
fotografias (digitais?).
Com a
maior facilidade de publicação surge também o problema da
qualidade, isto é, deve-se estar atento para as informações
irrelevantes, que são muitas, disponíveis on-line. Devemos lembrar
que qualquer um pode escrever qualquer coisa, e avaliar o quanto de
crédito cada informação merece.
Como
no caso exposto por Ginzburg na segunda parte de sua palestra, a
descontextualização e a livre interpretação podem induzir quem
está pesquisando a uma conclusão equivocada. E há quem se
interesse até por essas interpretações errôneas, seja por que se
tornam mais atraentes seja por que se tornem mais convenientes.
Por
fim, não devemos temer a “era da informação” e sim nos adaptarmos e tomarmos os devidos cuidados ao lidarmos com uma tecnologia
extremamente inclusiva. A História é uma grande beneficiária da
internet, mesmo com todos os problemas que estão presentes na rede.
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