Quando
o Estado de Israel foi criado, em 1948, no território da Palestina, os ataques
aos israelenses (que já ocorriam há muitos anos antes) tornaram-se um problema
constante. Já nos primeiros dias os israelenses tiveram que resistir a uma
coalizão de vários Estados Árabes (Síria, Egito, Jordânia e Líbano). Vários
acordos de paz foram firmados e quebrados, permanecendo sempre o Estado de
Israel no seu lugar (se defendendo ou atacando, mas sem nunca ser destruído) e
os países árabes na ofensiva. Isso gerou um número grande de refugiados
palestinos em Estados vizinhos, pois a convivência era penosa e nem todos
estavam dispostos a arriscar a vida para permanecerem na antiga Palestina.
Na
década de 1950 a
tensão entre Egito e Israel começou a aumentar. Os egípcios começaram a impedir
a passagem dos navios israelenses pelo Canal de Suez, importante via marítima
que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho, assim como em outras passagens
importantes para o comércio. O bloco socialista e capitalista começaram a
patrocinar as ações de Egito e Israel respectivamente enviando armamentos,
criando um cenário típico da chamada “Guerra Fria” que acontecia na época. Como
retaliação às ações do Egito, em 1956, os Estados Unidos retiraram o apoio aos
empreendimentos daquele país. O presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, então,
nacionalizou o Canal de Suez, para que com o lucro obtido com a passagem pela
via pudesse financiar seus empreendimentos nacionais (entre eles a construção
de uma Usina Hidrelétrica). Isso gerou uma reação da França e da Inglaterra,
países que tinham altos investimentos na empresa do canal e que se sentiram
prejudicados. Como a resolução da ONU não foi satisfatória aos interesses dos
franceses e britânicos, estes apoiaram uma investida de Israel contra o Egito.
A intenção era que, com o pretexto de defender o Canal das agressões, tropas
dos dois países europeus ocupassem a região. A ONU recusou a proposta e criou a
United Nations Emergency Force (UNEF, Força de Emergência das Nações Unidas)
para ocupar a fronteira entre Egito e Israel e garantir o armistício. E é aí
que entra o Brasil, que fez parte junto a outras nações dessa força de
emergência.
BATALHÃO SUEZ
Foi criado pela Decreto Legislativo nº
51 de 1956 que continha as seguintes disposições:
·
Criava um Batalhão independente para auxiliar a Força de Emergência com o
objetivo de manter a paz e a segurança internacional na região compreendida
entre o Canal de Suez e a Linha de Armistício entre Israel;
·
O Batalhão estava proibido de participar de qualquer
anexação territorial seja ela qual fosse;
·
O Batalhão não participaria da Força de Emergência se dela participassem
militares de qualquer nação em litígio na área;
·
O Governo não revestiu de caráter sigiloso a realização da missão,
autorizando a cobertura jornalística sem restrições;
·
Autorizava a passagem de tropas de nações amigas pelo território
brasileiro a fim de realizarem transporte para região do conflito.
Assim foi organizado o
Batalhão Suez, que foi criado no 2º Batalhão de Infantaria Motorizado, o atual
Regimento Avaí. Do início ao fim da missão, vinte contingentes participaram da
mesma, com rodízio de pessoal ocorrendo a cada seis meses. A missão era a de
patrulhar a linha do armistício, na Faixa de Gaza, e impedir incursões de ambos
os lados, mantendo a estabilidade no local.
HISTÓRIAS E FATOS DA MISSÃO
A missão foi cumprida
até 1958 com o retorno do último contingente, após a tensão entre Israel e
Egito subirem novamente e a situação na fronteira se tornar insustentável.
Permanecer era ter que entrar na guerra, e a ONU, seguindo sua conduta, se
retirou. Ou seja, os brasileiros permaneceram por lá até o fim da missão.
Sofreram muito com o clima desértico (muito quente durante o dia e frio à
noite), com a diferença cultural, com os ataques dos guerrilheiros palestinos,
com as incursões de ladrões, com as diversas minas colocadas na região entre
outras provações. Houve quem se aventurasse além da linha do armistício em
busca de mulheres (nos Kibutz
israelenses, espécie de fazenda familiar). Houve morte por tiros, doenças,
depressão, melancolia por estar longe da família... enfim, são muitas as
histórias que esses combatentes tem para contar. Pois bem, existem duas
excelentes fontes a serem consultadas por aqueles interessados nessas
histórias:
1.
O livro “Operações de Paz: Missão em Suez”, publicado pela BIBLIEx este
ano. O livro faz parte do projeto História Oral, que realiza entrevistas com os
participantes ainda vivos de vários eventos históricos. É a preservação da
memória de nosso país. O livro é muito interessante e traz muitas minúcias do
dia-a-dia da tropa na missão.
2.
O site mantido pelos próprios ex-combatentes de Suez disponível em http://www.batalhaosuez.com.br/batsuez.htm,
onde são encontrados vários dados estatísticos, fotos, documentos pessoais,
entrevistas etc.
Cabe agora ao
leitor aceitar a missão e acompanhar nossos combatentes até a Faixa de Gaza,
onde a memória desses homens irá guiá-los!
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