terça-feira, 11 de outubro de 2011

FORÇA DE EMERGÊNCIA DA ONU: O BRASIL EM MISSÃO NO DESERTO



            Quando o Estado de Israel foi criado, em 1948, no território da Palestina, os ataques aos israelenses (que já ocorriam há muitos anos antes) tornaram-se um problema constante. Já nos primeiros dias os israelenses tiveram que resistir a uma coalizão de vários Estados Árabes (Síria, Egito, Jordânia e Líbano). Vários acordos de paz foram firmados e quebrados, permanecendo sempre o Estado de Israel no seu lugar (se defendendo ou atacando, mas sem nunca ser destruído) e os países árabes na ofensiva. Isso gerou um número grande de refugiados palestinos em Estados vizinhos, pois a convivência era penosa e nem todos estavam dispostos a arriscar a vida para permanecerem na antiga Palestina.
            Na década de 1950 a tensão entre Egito e Israel começou a aumentar. Os egípcios começaram a impedir a passagem dos navios israelenses pelo Canal de Suez, importante via marítima que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho, assim como em outras passagens importantes para o comércio. O bloco socialista e capitalista começaram a patrocinar as ações de Egito e Israel respectivamente enviando armamentos, criando um cenário típico da chamada “Guerra Fria” que acontecia na época. Como retaliação às ações do Egito, em 1956, os Estados Unidos retiraram o apoio aos empreendimentos daquele país. O presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, então, nacionalizou o Canal de Suez, para que com o lucro obtido com a passagem pela via pudesse financiar seus empreendimentos nacionais (entre eles a construção de uma Usina Hidrelétrica). Isso gerou uma reação da França e da Inglaterra, países que tinham altos investimentos na empresa do canal e que se sentiram prejudicados. Como a resolução da ONU não foi satisfatória aos interesses dos franceses e britânicos, estes apoiaram uma investida de Israel contra o Egito. A intenção era que, com o pretexto de defender o Canal das agressões, tropas dos dois países europeus ocupassem a região. A ONU recusou a proposta e criou a United Nations Emergency Force (UNEF, Força de Emergência das Nações Unidas) para ocupar a fronteira entre Egito e Israel e garantir o armistício. E é aí que entra o Brasil, que fez parte junto a outras nações dessa força de emergência.

BATALHÃO SUEZ

            Foi criado pela Decreto Legislativo nº 51 de 1956 que continha as seguintes disposições:

·        Criava um Batalhão independente para auxiliar a Força de Emergência com o objetivo de manter a paz e a segurança internacional na região compreendida entre o Canal de Suez e a Linha de Armistício entre Israel;
·         O Batalhão estava proibido de participar de qualquer anexação territorial seja ela qual fosse;
·        O Batalhão não participaria da Força de Emergência se dela participassem militares de qualquer nação em litígio na área;
·        O Governo não revestiu de caráter sigiloso a realização da missão, autorizando a cobertura jornalística sem restrições;
·        Autorizava a passagem de tropas de nações amigas pelo território brasileiro a fim de realizarem transporte para região do conflito.

Assim foi organizado o Batalhão Suez, que foi criado no 2º Batalhão de Infantaria Motorizado, o atual Regimento Avaí. Do início ao fim da missão, vinte contingentes participaram da mesma, com rodízio de pessoal ocorrendo a cada seis meses. A missão era a de patrulhar a linha do armistício, na Faixa de Gaza, e impedir incursões de ambos os lados, mantendo a estabilidade no local.


HISTÓRIAS E FATOS DA MISSÃO


            A missão foi cumprida até 1958 com o retorno do último contingente, após a tensão entre Israel e Egito subirem novamente e a situação na fronteira se tornar insustentável. Permanecer era ter que entrar na guerra, e a ONU, seguindo sua conduta, se retirou. Ou seja, os brasileiros permaneceram por lá até o fim da missão. Sofreram muito com o clima desértico (muito quente durante o dia e frio à noite), com a diferença cultural, com os ataques dos guerrilheiros palestinos, com as incursões de ladrões, com as diversas minas colocadas na região entre outras provações. Houve quem se aventurasse além da linha do armistício em busca de mulheres (nos Kibutz israelenses, espécie de fazenda familiar). Houve morte por tiros, doenças, depressão, melancolia por estar longe da família... enfim, são muitas as histórias que esses combatentes tem para contar. Pois bem, existem duas excelentes fontes a serem consultadas por aqueles interessados nessas histórias:

1.      O livro “Operações de Paz: Missão em Suez”, publicado pela BIBLIEx este ano. O livro faz parte do projeto História Oral, que realiza entrevistas com os participantes ainda vivos de vários eventos históricos. É a preservação da memória de nosso país. O livro é muito interessante e traz muitas minúcias do dia-a-dia da tropa na missão.
2.      O site mantido pelos próprios ex-combatentes de Suez disponível em http://www.batalhaosuez.com.br/batsuez.htm, onde são encontrados vários dados estatísticos, fotos, documentos pessoais, entrevistas etc.

Cabe agora ao leitor aceitar a missão e acompanhar nossos combatentes até a Faixa de Gaza, onde a memória desses homens irá guiá-los!

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