segunda-feira, 22 de agosto de 2011

MISSÃO MILITAR FRANCESA DE AVIAÇÃO


No início do Século XX, uma nova arma surgia no cenário mundial: o avião, recém concebido, já estava sendo adaptado para a guerra. França e Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, utilizaram o que havia de melhor em termos de Aviação Militar na época conseguindo provar a eficiência dos aeroplanos em combate. O Brasil, em 1915, começou a dar os primeiros passos a caminho da formação da sua Força Aérea. É o que está descrito no Relatório do Estado Maior do Exército do ano de 1915. Inicialmente usada como observação aérea, a Aviação já era motivo de estudo em todo o mundo. Eis um extrato do relatório:

"Em face dos consideráveis progressos da aviação nestes últimos tempos, não é mais possível ficarmos alheios a esta questão. Somos obrigados a resolvê-la de qualquer modo, se não quisermos ficar em atraso. A extraordinária atividade dessas admiráveis esquadrilhas aéreas, que na presente guerra desempenham papel preponderante na orientação da artilharia de grosso e pequeno calibre, assinalando com precisão a posição exata dos objetivos a bater, tem demonstrado de modo absoluto a eficácia dessa nova arma. Não há mais dúvidas sobre a necessidade desses rápidos aparelhos aéreos em um exército bem organizado (...)" (Documentos Históricos do Estado Maior do Exército,  Editora do Estado Maior do Exército, Rio de Janeiro 1996, Pg 59-60)
Com a verba disponível o governo poderia adquirir quatro aparelhos dentre as três classes existentes à época: reconhecimento, regulação de tiro e ataque. O conselho foi para que fossem adquiridos dois aparelhos de reconhecimento, um de regulação e um de ataque. O local escolhido para iniciar o empreendimento da aviação foi o Campo dos Afonsos, na cidade do Rio de Janeiro, onde funcionava uma escola de aviação civil:

"Penso que o Campo dos Afonsos, onde está situada a escola de aviação, presta-se perfeitamente para a instalação de nosso serviço. Uma companhia independente de aviação, com 100 homens, comandada por um capitão escolhido e com subalternos aviadores poderia aquartelar em dependências da escola construídas para esse fim."(Documentos Históricos do Estado Maior do Exército,  Editora do Estado Maior do Exército, Rio de Janeiro 1996, Pg 62)

Em 1916, durante a Campanha do Contestado, algumas aeronaves emprestadas do Aeroclube do Brasil (civil) foram utilizadas para reconhecimento, porém o resultado final foi desanimador, matando um piloto e resultando na perda de três aeronaves (duas por conta de um incêndio durante o transporte ferroviário das aeronaves e uma com a queda do  avião pilotado pelo Tenente Kirk, levando-o à morte).
O ânimo, porém, não esmorecera por parte do Exército, que resolveu contratar uma missão militar para criar, de uma vez por todas, uma escola de aviação. Foi assim que em 1918 foi contratada a 1ª Missão Militar Francesa: a de aviação, quando o Estado Maior estava sob o Comando do General Bento Ribeiro. Transcrevo aqui no Blog alguns artigos do contrato original:

"ARTIGO I - A pedido do Governo Federal Brasileiro, apresentado pelo Senhor Magalhães, enviado extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil em Paris, agindo como representante do Governo Federal Brasileiro, o Governo Francês envia ao Brasil uma Missão de Aviação composta da seguinte forma: O Sr. capitão MAGNIN, do estado Maior do Exército, chefe da Missão, tenente LAFAY, adjunto, tenente VERDIER, adjunto, Sgt ajudante BORSAND, Especialista em foto aérea, sargentos GAILLARD e BUISSON, mecânicos de motores e os sargentos SAUVAJET, MEIGNEN, Le SUESSEC, mecânicos de aviões.
Essa missão é encarregada de desenvolver e de organizar os serviços da aviação militar no Exército Federal Brasileiro. Ela será posta à disposição do Governo Federal Brasileiro por um período de dois anos, a contar de sua partida de França.
ARTIGO II - A missão será incumbida de criar, em primeiro lugar, as escolas de aviação necessárias à instrução do pessoal: pilotos, mecânicos e observadores. Ela prosseguirá, a seguir, pela organização dos serviços aeronáuticos no Exército Brasileiro, inspirando-se nos métodos em vigor nas Forças Armadas Francesas.
(...) ARTIGO V - O chefe da Missão Militar Francesa de Aviação será tratado como um coronel do Exército Brasileiro e os oficiais adjuntos como capitães. Esses oficiais usarão uniforme do Exército Francês com os distintivos de seus postos no Exército Brasileiro." 

Assim, a Missão Militar Francesa veio com o propósito de criar e estruturar nossas Escolas de Aviação. Para isso contaram com muitas regalias, como postos acima dos que ocupavam na França, soldos especiais, férias diferenciadas, entre outras. Afinal, não se tratava de uma missão qualquer, o que se fazia era adquirir experiência na arma mais poderosa do mundo até então. Equivaleria, hoje em dia, em uma Missão  Militar Sobre Construção de Armas Nucleares. Imaginem quanto não custaria? Que país estaria disposto a ensinar tal técnica?

"ARTIGO VII - Antes de deixar a França o pessoal da Missão Militar Francesa de Aviação receberá, por intermédio da Legação do Brasil em Paris: 
a) O total do preço das passagens de Paris ao Rio de Janeiro, em primeira classe, por mar e por via férrea;
b) Uma gratificação de instalação de 1.000 frs. para o chefe da missão, 800 frs. para os Oficiais Adjuntos, 600 frs. para o Sgt ajudante encarregado da foto aérea e 400 frs. para os montadores de avião e os mecânicos de motor." (Documentos Históricos do Estado Maior do Exército,  Editora do Estado Maior do Exército, Rio de Janeiro 1996, Pg 73-75)
Os outros artigos garantem os mesmos recursos para a volta dos militares ao fim da missão, garantia de pagamento de todo deslocamento em serviço, coloca à disposição dos oficiais um soldado ordenança para serviço pessoal. 

Essa missão, precursora da Missão Militar Francesa maior, foi de suma importância para o desenvolvimento da nossa aviação militar. Em 1920 encontramos a seguinte citação sobre a Escola Militar de Aviação ( no Campo dos Afonsos) no Relatório do Ministro da Guerra de 1920:
"Em janeiro foi realizada a distribuição dos diplomas de pilotos aviadores militares aos 13 oficiais que constituíram a primeira turma de alunos do curso de pilotos (...)
O primeiro período letivo do curso de pilotos, consistiu do seguinte movimento:
 Obtiveram licença para a matrícula: 39 (inspecionados: 32)
Julgados aptos:  26 (desistiram: 7)
Fizeram exame de admissão: 21 (julgados aptos 12, apresentaram atestados:7)
Matriculados no curso: 17" (Relatório do Ministro da Guerra, 1920, Imprensa Nacional)
No ano seguinte já haviam militares uruguaios cursando a Escola de Aviação. Sendo assim, podemos ter uma ideia da importância que teve a decisão de contratar a missão estrangeira e quanto disso nos beneficiamos. Era o embrião da nossa Força Aérea. Base Aérea dos Afonsos, és o berço da aviação militar! rs... quem já serviu lá sabe do que estou falando. Um abraço a todos!